Velhice.

-Vamos lá, temos a noite toda pela frente!
Foi o que li nos olhos do meu Poodle. Sim, delírio, foi o que pensei de primeiro momento. Já estou nos meus 75 anos, viúva e solitária. Minhas noites são quase todas assim, na varanda, a observar a lua, que tanto se parece comigo.
Sabe, quando chegamos nessa idade, temos somente de pensar em como iremos morrer. Parece engraçado, mas amedronta. Já presenciem muito de meus amigos e parentes morrerem de velhice e nem todas eram tão rápidas ou quando estavam dormindo como pensam. Muitos entrevavam, passavam por varias cirurgias, aquela agonia, mas que no final não adiantava em nada.
- Vamos pra onde Luck?! Há essa hora?
Talvez eu já esteja ficando gá gá. Mas agora me deu, de repente, uma vontade de sair por essas ruas com o meu cão, sem medo de ladrão nem escuridão. Sim, uma noite de aventura, por que não?
É maldade dizer que os velhos já estão mortos. Tantas crianças, adolescentes e jovens que vi nascer, já morreram. Morreram antes da tia aqui.
Deus é irônico.
E com essa ironia ele faz a justiça. Não! Não estou falando dos novos morrerem antes dos velhos. E sim da vida. De como o mundo dá voltas. De como o rico fica pobre e como o pobre fica rico.
Saímos em direção a leste. Devagar, sem pressa de voltar. O luck parecia que realmente queria passear está noite. Estranho, ele é tão quieto, malmente me informa quando quer fazer suas necessidades.
O tempo foi passando. Paramos em uma praça. Vimos quase ninguém. Interior é assim mesmo, passou da meia-noite a cidade para. Engraçado.
No banquinho da praça dei uns biscoitinhos ao Luck, que agora, sentado em meu colo começara a brincar com a minha mão. Nem sei q horas era só sei que a noite estava uma delícia, clima gostoso. Mais umas horinhas ali e voltamos a caminhar para casa. Passos lentos. Sem pressa. O luck estava aceso como nunca. Pareceu bem contente com a noitada.
Mais alguns minutos e chegamos
Ele estava com uma carinha de cansado.
Entramos, liguei a luz, fechei a porta e fomos para meu quarto, ultimamente ele estava esquentando meus lençóis, minha única companhia. Então, quando fechei os olhos, o Luck fechou os deles também, a noite parecia sim, pela
primeira vez, uma criança. Inocente, tranqüila, linda e nova.
E desse sono, nunca mais acordei. Mas te juro, que foi infinito enquanto durou.
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